Alunos das escolas públicas de Santa Maria voltam às aulas lidando com problemas estruturais

Laura Gomes e Eduarda Paz

Alunos das escolas públicas de Santa Maria voltam às aulas lidando com problemas estruturais

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

O ano letivo é novo, mas os problemas são antigos. Foi com esse cenário que cerca de 30 mil alunos das redes estaduais e municipais de Santa Maria retornaram às aulas nesta quinta-feira (23). O Diário acompanhou a volta dos estudantes para as instituições de ensino. Apesar da recepção calorosa às crianças e aos jovens, o que mais chamou a atenção no retorno foi o relato de escolas sem infraestrutura e com pendências que não conseguiram ser resolvidas antes do início do ano letivo.

Escolas estaduais

De acordo com informações da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), são 41 escolas estaduais em Santa Maria. A previsão é para atender 17 mil alunos, mas até o momento, estão matriculados cerca de 11 mil estudantes. O número pode aumentar porque ainda é possível fazer a matrícula atrasada na Central de Matrículas.

No Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac, no Bairro Centro, os alunos chegaram cedo para a volta às aulas. Por volta das 7h desta quinta-feira (23), alguns jovens já aguardavam os colegas e os professores no pátio da escola. Esse foi o caso das estudantes Rafaela Amaral, 14 anos, e Ana Vitória dos Santos, 15 anos. Ambas estudavam na Escola Estadual de Ensino Fundamental (EMEF) Boca do Monte e, agora, ingressaram no 1º ano do Ensino Médio do Olavo Bilac.

– Eu espero fazer novas amizades e me dar bem na escola – relata Rafaela.

– Espero fazer novos amigos e conseguir passar de ano – afirma Ana Vitória.

Além dos estudantes, muitos pais acompanharam os filhos no primeiro dia de aula de 2023. A cozinheira Valdreza Santos da Silva, 41 anos, conseguiu matricular as duas filhas no Olavo Bilac. Uma delas é a Nathali Gabrieli Santos da Silva, 15, que ingressou no 1º ano do Ensino Médio. A outra é Isabela Santos da Silva, 5 anos, que vai começar o 1° ano do Ensino Fundamental.

– Eu estou feliz, espero que elas tenham um bom ano de estudo. Eu trabalho pela manhã e precisaria que alguém cuidasse da pequena. Ela estava matriculada em outra escola, no turno da tarde. Assim ficava difícil, uma de tarde e outra de manhã. Vim aqui (no Olavo Bilac) descobri que tinha vaga para as duas, fui na Central de Matrículas e consegui. Fiquei bem aliviada porque elas vêm e voltam juntas, e eu posso trabalhar tranquila – conta Valdreza.

Atualmente, cerca de 1.200 estudantes frequentam a escola, que conta com uma equipe de 130 professores.

– A expectativa é que a gente tenha um ano letivo tranquilo, calmo e de muitos aprendizados com a implantação do novo Ensino Médio na nossa escola. Nós também queremos que os índices de aprovação melhorem – comenta a diretora Simone Marafiga Degrandi, 37 anos.

Apesar das perspectivas otimistas, hoje, a escola ainda está tentando resolver uma série de complicações estruturais antigas. Conforme a diretora Simone, as salas de aula precisam de pintura, as janelas, o assoalho, as aberturas das portas, o pátio e as quadras esportivas necessitam de reformas, a fachada demanda uma restauração, o refeitório tem que ser aumentado, e a instalação elétrica carece de reparos.

– Eu acredito (que esses problemas) impactam pela questão da gente querer ofertar aos alunos um ambiente de melhor qualidade. Muitas pessoas visitam, ou mesmo pais e alunos novos que chegam, percebem que a escola está mal cuidada, mas na verdade é essa falta de reforma e investimento em infraestrutura – lamenta a diretora.

Uma das estudantes que identifica alguns desses problemas na escola é Ketlin Buske Salles, 17 anos, aluna do 1º ano do Ensino Médio:

– (Os problemas) são na estrutura da escola completa e nos banheiros também.

A boa notícia é que esse cenário pode mudar. Isso porque o Olavo Bilac é uma das cinco escolas avaliada em situação de urgência, que deve receber recursos do governo do Rio Grande do Sul para realizar reformas na estrutura do prédio. No total, serão destinados R$ 30 milhões para as escolas estaduais gaúchas. Até o momento, não foi informado quanto será destinado para cada instituição de ensino. A expectativa da direção do Olavo Bilac é que as reformas comecem entre maio e junho deste ano.

Outros problemas

Além das questões de infraestrutura, o Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac enfrentou um período conturbado antes do início do ano letivo. De acordo com a diretora Simone Marafiga Degrandi, uma nova fase de recuperação de estudantes reprovados foi estabelecido pelo governo do estado para os dias 8 a 17 de fevereiro. 

Diante dos altos índices de reprovação, o objetivo dessa recuperação era criar mais uma chance para aqueles alunos que apresentaram resultado inferior à média anual e/ou tiveram frequência menor que 75% em 2022. 

Conforme explica Simone, essa ação poderia ter sido feita ainda no ano letivo de 2022, pois, nesse momento acabou atrapalhando os preparativos para 2023 e sobrecarregando os professores. Além disso, Simone também alertou que os alunos não têm condições de recuperar o ano letivo em duas semanas. Ela ainda reiterou que essa tentativa de “aprovação em massa” do governo do Estado poderá ter reflexos futuros negativos na educação das crianças e dos jovens, que já vinham com o ensino defasado desde a pandemia.

Com relação à falta de professores, no Olavo Bilac, no momento atual, os anos iniciais estão sem professor de Educação Física. Conforme a diretora, está em andamento o encaminhamento de um profissional da área.

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Escolas municipais

Na rede municipal, de acordo com a prefeitura de Santa Maria, 20 mil alunos retornaram às salas de aula nesta quinta-feira (23). No município, são 80 escolas que oferecem Ensino Fundamental e Educação Infantil. Uma delas é a Escola de Ensino Fundamental (Emef) Santa Helena, no Bairro Camobi. Cerca de 190 alunos frequentam a instituição, que conta com aulas nos turnos da manhã e da tarde.

– A gente está com uma expectativa muito boa que esse ano vai ser de muitas realizações e aprendizagens. Tanto nós quanto os alunos estamos muito felizes porque ficar estudando em casa (na pandemia) não é a mesma coisa que o olho no olho. Ano passado já tivemos a vinda de grupos escalonados, foi melhorando e agora voltamos a normalidade – declara a vice-diretora Miriam de Oliveira Maciel.

Assim como na rede estadual, as escolas municipais também enfrentam problemas estruturais. Na Emef Santa Helena, são necessários reparos na parte elétrica, pois, em dias muito quentes, cai a luz em um bloco da escola. Conforme a diretora, a prefeitura está ciente e um engenheiro deve fazer um projeto para modificar a instalação elétrica. 

Outra questão é o calçamento da escola, que está com buracos e precisa de reformas. Para essa demanda, a escola ainda não teve retorno do Executivo municipal sobre o prazo para resolver o problema.

Além disso, outras escolas municipais estão com danos na estrutura que comprometem as aulas e a circulação da comunidade escolar. Um exemplo é a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Luizinho De Grandi, na Cohab Santa Marta, Bairro Juscelino Kubitschek, que desde 2021 está com problemas estruturais. Diante do agravamento da situação, o prédio será demolido e os alunos de 4 e 5 anos, serão transferidos para a Escola Augusto Ruschi. Os demais estudantes serão distribuídos entre as escolas da região.

Outra estrutura em risco é a Escola Municipal Major Tancredo Penna de Moraes, que atende o Distrito de Palma. Em fevereiro, a escola comunicou a situação à prefeitura, e passou por nova vistoria. Desta vez, a escola foi interditada, e o início do ano letivo para 130 alunos começará atrasado.

Distribuição de alunos

A Secretaria Municipal de Educação (Smed), informa sobre outros locais em que os alunos vão ser distribuídos para o início do ano letivo:

Centro de Educação Infantil (CEI) Casa da Criança

  • Devido à reforma, as crianças da etapa pré-escola da CEI Casa da Criança serão atendidas temporariamente em espaço cedido pela Rede Estadual, nas dependências do Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac. Dessa forma, o ano letivo dessa etapa (pré-escola) iniciará no dia 23 de fevereiro, sem haver prejuízo no calendário escolar do ano de 2023.

Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Ione Parcianello

  • O Setor de Transporte Escolar/Smed está organizando uma alternativa para o transporte dos estudantes durante a reforma da escola. Até a finalização da obra, os estudantes terão aulas em um espaço do Instituto São José, que fica a sete quadras de distância da escola. Atualmente, a Emef Ione Medianeira Parcianello atende cerca de 170 alunos, do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

A prefeitura de Santa Maria informou que, atualmente, existem sete obras em andamento na rede municipal de ensino. O investimento nesses espaços é de R$ 25 milhões. 

Com relação às demandas emergenciais, o Executivo afirmou que a Secretaria de Educação (Smed) está trabalhando em conjunto com a secretaria de Município de Elaboração de Projetos e Captação de Recursos (Secap) e com as equipes gestoras das escolas em busca de soluções a curto e a longo prazos.

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